Laura Vasconcellos Fazzini
Bebê: Noah
O nascimento de um bebê é sempre um grande momento, seja ele o primeiro ou o segundo filho. Um momento tão esperado por todos e por isso também é tão cercado de palpites, mas o que fazer quando o palpite vem de alguém que estudou a vida toda pra te dizer tal coisa? Aí é hora de filtrar, escolher e ouvir seu coração. Não fosse a nossa escolha de um parto domiciliar planejado, a confiança na nossa equipe escolhida, muito provavelmente este relato teria um fim diferente.
Foi assim que o Noah chegou ao mundo, sendo assistido pela sua irmãzinha Clara, no conforto da sua casa, sem intervenções, com muito respeito e carinho. Uma noite planejada durante 9 meses mas que na hora aconteceu tudo diferente.
Foi um dia muito difícil e cansativo, não diferente de todas as dificuldades de uma gravidez não planejada, que passa por diversas fases desde a aceitação, o stress dos julgamentos, as dificuldades para aceitar que essa falta de planejamento mudaria nossa vida de 3, mas esse dia foi um desafio ainda maior, já tínhamos tudo acertado para que fosse feito do nosso jeito. Era mais um exame de rotina, acordamos cedo, papai que sempre nos acompanhou em todos os exames teve que trabalhar e lá fomos eu e ela, uma mais ansiosa que a outra para ver a "foto do Noah". Chegamos lá, demorou, mas pra quem já havia esperado 9 meses e feito diversos exames parecidos sem nada que prejudicasse os nossos planos essa espera foi suave. Ecodoppler, as palavras e a expressão facial do médico que nos acompanhou serão inesquecíveis, ah essas palavras, poderiam mudar os planos feitos por nós durante 9 meses em apenas uma manhã e quanta gente simplesmente aceitaria. Eu, Mamãe da Clara e leiga no assunto fiquei muito assustada, estava tentando arrumar artifícios para voltar no tempo e já "desejava nunca ter desejado" tanta coisa pra esse dia. Enfim, a questão era uma artéria dilatada na cabecinha do Noah que poderia estar causando sofrimento e falta de nutrição a ele e um quadro de polidramio, excesso de líquido amniótico. Tum tum tum tum, meus batimentos poderiam ser escutados facilmente por qualquer um que passasse no corredor e se misturavam aos batimentos do Noah que o GO agora auscultava.
Não podia ser verdade, tão no finalzinho, 40 semanas completas naquele dia. O indicativo não era de cesárea, isso foi confirmado por todos os 4 médicos que eu ainda ouviria aquele dia mas o parto deveria ser induzido o quanto antes para evitar problemas. PARTO INDUZIDO, o oposto do planejado, muitas intervenções, num ambiente inóspito como um hospital, um plantonista que eu não conhecia pra me dizer mais uma vez que quem mandava ali era ele e dessa vez sem a esperança de chegar o meu salvador.
Liguei pras pessoas em quem depositei toda a minha confiança para acompanhar esse momento, as enfermeiras obstétricas e a minha doula Tiffany Buchmann, eu queria a opinião do mundo, queria ouvir delas que isso não era nada demais que poderíamos esperar e assim foi. Passei uma tarde assustadora repeti o ecodoppler na esperança de uma opinião divergente, fiz cardiotoco o que me tranquilizou porque os batimentos estavam perfeitos, fui a uma consulta com uma obstetra que sem nem me perguntar, ao fazer toque, aproveitou a mãozinha lá e fez o descolamento da membrana, me avisou depois como se fosse a coisa certa a se fazer, como se tivesse feito um favor, (talvez isso até tenha ajudado mas eu deveria ter sido avisada antes), fiz acupuntura para tentar agilizar o parto, a noite as enfermeiras obstetras vieram para minha consulta de rotina e me deram um puxão de orelha. Ouvi delas, "em quem você confia? Nos médicos ou na gente, só você é capaz de decidir onde você se sentirá mais segura e até quando pretende esperar". Olhei para o Raul um pouco atordoada com a bronca, fiquei sem jeito e sem pensar muito eu disse que confiava nelas. Elas saíram de lá e ainda meio desconfiada (elas só saberão disso quando lerem) perguntei a opinião dele e optamos por esperar. Assistimos alguns capítulos de uma série, comecei a sentir dores as 23 hors mais ou menos, como cólicas que foram aumentando e de leves passaram a contrações insuportáveis muito rapidamente.
Nessa transição o papai cansado tirou uma sonequinha rápida, achamos que demoraria muito, enquanto eu tentava de todas as formas aliviar aquela dor. Já havia escrito pra Ty mas ela perguntou sobre a regularidade das contrações, eu, apesar de ter estudado tanto, feito curso, lido uma apostila sobre as fases do parto resolvi reler porque esqueci tudo. Me achava tão capacitada para fazer aquilo e de repente não sabia de mais nada. Só sabia que doía e eu queria que parasse. Tentei a bola, chuveiro, bolsa quente, auto-massagem e nada parava. Tudo o que eu sentia era diferente. Pensei que estava passando pela fase latente, na apostila dizia que era pra eu sentir vontade de arrumar a casa, eu só tinha vontade de gritar, mais nada. Lembrei da aula de vocalizações da Ty e tentei mas nem isso eu conseguia embora que depois ela tenha dito que fiz certinho, pra mim eram só alguns gritos sem sentido. Achei que era chegada a hora de escrever pra Ty de novo, foi o que fiz, mas não consegui terminar, o Raul levantou e terminou de falar com ela. Ela decidiu que era hora de vir. O Raul acionou também a Gi que tiraria nossas fotos, até fiquei brava e disse mas vai demorar muito não era pra chamar ainda. Ambas chegaram com a diferença de minutos. Nisso ouvi o Raul ao telefone com a Cris e ela perguntando se eu sentia vontade de fazer força, naquele minuto exatamente eu não sentia vontade mas foi ele desligar o telefone pra essa vontade aparecer. Senti algo quente que eu pensava ser o bebê mas na realidade era apenas a bolsa que resolveu sair antes dele. Me animei porque aquilo então não era só a fase latente, já havíamos progredido e estávamos no expulsivo. Lembro das mãozinhas abençoadas da Ty fazendo massagem, do Raul me dizendo que eu conseguiria, me lembrando da minha força a cada descrença minha vocalizada com uma frase negativa de não vou conseguir, e lembro da minha Clarinha chegando um pouco sonolenta, num misto de braveza e curiosidade, sem querer chegar perto pra ver mas sem querer ir embora. Lembro de colocar a mão e sentir os cabelinhos dele na cabecinha já coroada. Mas faltava tanto ainda, era só um pedacinho dos 51 centímetros que deveriam sair dali. E mais uma vez uma onda de falta de confiança se sobrepôs a minha força dizendo que não ia suportar enquanto todos ao meu redor acreditavam em mim e me e diziam palavras lindas e positivas. A piscina que era o planejado ficou cheia apenas de ar Noah não quis esperar a água.
Enfim as 3h03min mais uma força e a cabecinha saiu e em seguida todo o corpinho, com duas circulares de cordão assim como a Clara. Peguei ele pela primeira vez, novamente parecia que era a primeira vez que eu pegava um bebê no colo, chegou a Cris nossa enfermeira para dar os toques finais, nascia o Noah com 3,815 kg e 51 cm que agora dorme ao meu lado enquanto escrevo este relato com lágrimas nos olhos e a certeza de que fiz a melhor escolha que podia. Tenho tantas pessoas a agradecer entre elas, as já citadas papai Raul, Tiffany Buchmann, Gi fotografa, Cris Topala, Aline, Sibelly e Karen, ao doutor Cleber, um médico homeopata que ama o que faz e o faz com maestria simplesmente porque ama, que me atendeu num momento de desespero em troca de satisfação pessoal já que mora e atende em outra cidade. Agradeço ainda a todos os amigos e familiares que apoiaram essa nossa decisão que sei é difícil de entender. Aos meus queridos que mesmo não apoiando a decisão tiraram um tempinho para satisfazer as minhas vontades de grávida. Muito obrigada a todos!
Para quem me julgou pela escolha, desejo que seu parto seja tao lindo e cheio de amor da forma que for, assim como foi o meu.
“Nessa transição o papai cansado tirou uma sonequinha rápida, achamos que demoraria muito, enquanto eu tentava de todas as formas aliviar aquela dor".
Laura Vasconcellos Fazzini



