Mariana da Rosa
Bebê: Oliver
Meu filho mais novo, Oliver, nasceu no dia 16 de julho de 2018, de parto natural humanizado na banheira, com 4,165 kg e circular de cordão, após eu ter tido uma cesárea na primeira gestação.
Meu filho mais velho, Thomas, nasceu de cesárea, com 41 semanas em setembro de 2013. Eu queria parto vaginal na época, mas tinha medo da semana 42 e nenhuma noção de que poderia ter tentado induzir o parto entre as semanas 40 e 41. Thomas nasceu de cesariana, com 51 cm e 4,300 kg.
Quando engravidei do meu segundo filho, eu continuava a achar que o parto vaginal era a melhor opção, principalmente porque a recuperação da cesárea foi bem ruim. Troquei o meu então médico por um obstetra humanizado. Junto disso, “tropecei sem querer” no Instituto Besser, que fica a uma quadra do meu trabalho.
O Instituto Besser, "Cuidando de quem Cuida" tem uma gama de serviços para gestantes e mães. Parece que eu estou fazendo propaganda deles aqui no meu relato (e estou fazendo isso também, porque a equipe dele é sensacional), mas não tenho como deixá-lo fora do meu relato, porque ter entrado lá foi uma ótima decisão. Explico: entrei lá querendo me informar sobre Pilates para Gestantes e acabei descobrindo, além disso, que lá dava para fazer indução do parto através da acupuntura, com um médico obstetra. Isso foi uma luz no meu caminho, afinal, os pavores da minha vida com relação ao parto eram, a semana 42, não entrar em trabalho de parto até a semana 41 (eu tinha pavor da semana 42 e ir pra cesárea novamente, fazer cocô na frente das pessoas durante o parto e a episiotomia.
Pasmem. Nunca tive medo da dor do parto em si. Porém, cogitava um parto normal com analgesia, porque, né? Se existe, por que não usar?
E assim seguiu a vida, fiz Pilates uma vez por semana lá, aula de natação duas vezes por semana (não fiz hidroginástica, porque nela a cabeça fica pra fora d’água e a grávida tem que ficar ouvindo toda gama de comentários das coleguinhas velhinhas da aula e eu, decididamente, não merecia isso na minha vida), ia no meu obstetra e estava decidida a ter meu bebê com ele no hospital que ele trabalhava.
Uma noite fui conhecer o hospital e ver como eram os procedimentos. Eu, o marido e mais uns 50 casais grávidos. Enfim, lá pelas tantas a enfermeira mostra um vídeo institucional com os dois tipos de parto, cesárea e normal. Pela cesárea eu já tinha passado e é aquilo lá mesmo nu e cru, uma cirurgia de médio porte, na qual a mulher deita e respira e espera o bebê ser retirado da sua barriga. O nascimento ocorre bem rápido, o que demora é o processo de corte e costura depois, onde você leva em média 75 pontos. Claro que essa última parte não aparecia no vídeo. Em seguida veio a parte do parto normal. Na verdade, um parto Anormal horrendo! Nele a mulher ficava deitada na maca, anestesiada e sorrindo, enquanto o obstetra ficava com a mão dele pousada na barriga dela para sentir as contrações. A parturiente era incapaz de sentir as próprias contrações por conta da analgesia e dependia do médico pra isso. Ou seja, quase tão passiva quanto na cesárea. Achei aquilo um horror e decidi naquela hora que se fosse para ter parto vaginal, teria que ser sem analgesia nenhuma, ou seja, parto natural.
Por conta do Pilates eu ia no Besser uma vez por semana e lá tem uma série de cursos voltados para o parto e maternidade, dentre eles o Curso de Capacitação de Casais em Parto Normal. Ele acontece todo primeiro sábado do mês e é ministrado pela Tiffany Buchmann, DOULA MAIS NINJA DAS GALÁXIAS. Conseguimos fazer o curso, marido e eu, quando eu estava de 34 semanas e foi sensacional. Não só pelo conteúdo do curso (sério, se você está grávida, FAÇA O CURSO), mas pelas decisões que tomamos a partir dali. Reconsiderei e fui visitar a Maternidade Santa Brígida, que apesar da fama de cesarista está empenhada em se capacitar no Parto Adequado e Humanizado e tem duas suítes humanizadas ótimas, e gostei do que vi. E marcamos uma reunião com nossa vizinha, que viria ser nossa doula.
Decidimos então que a Ty seria nossa doula e que teríamos nosso bebê no Santa Brígida, na suíte de Parto Humanizado com Banheira. Por conta disso, também mudamos de obstetra e optamos pela SUPER MEGA BLASTER Dra Danielly Werka, médica humanizada, amor de pessoa, que faz parte do Grupo Partus e atende no Santa Brígida. Trocamos de obstetra quando eu estava com 36 semanas.
Segui fazendo acompanhamento semanal com a obstetra. Na consulta que eu estava com 39 semanas e 4 dias ela me perguntou se eu gostaria de tentar induzir o parto, provavelmente porque estava estampado na testa o quanto eu estava cheia de estar grávida. Mas achei melhor não, induzir parto antes das 40 semanas é ansiedade demais. No dia 14 de julho de 2018, sábado em que completei 40 semanas fui fazer acupuntura com o Dr. Marcio Yukio, no Instituto Besser. Com 40 semanas completas eu não considerava mais ansiedade extrema induzir parto e continuava a ter aquele meu medo da semana 42. E depois? Depois fomos, marido, filho mais velho e eu, nadar.
Nadei meus 1.000 metrinhos de sempre e notei que uma contração de treinamento emendava na outra. Era normal ter contrações de treinamento durante as aulas de natação, mas nunca daquele jeito. Achei que era efeito psicológico da acupuntura.
No dia seguinte, domingo, fomos assistir à final da Copa na minha mãe. Até cogitei a possibilidade de aproveitar pra nadar também no domingo, mas desisti pensando que não precisava nadar em todos os momentos livres da minha vida. Ainda bem. Chegamos da minha mãe às 16 horas e fui direto pra cama dormir, porque sentia todo o cansaço do mundo. Acho que era o corpinho armazenando energia para o que viria. Dormi até umas 18 horas e entre um cochilo e outro, sentia contrações de treinamento e outras com dor. Acordei, mas permaneci na cama. A partir daí todas as contrações era doloridas e sem ritmo, e a cada nova que vinha, eu brincava de estátua com meu filho mais velho. Ele continuava se divertindo e eu podia me concentrar, embora essas contrações doloridas fossem bem café com leite.
Lá pelas 21 horas mandei mensagem pra Ty contando. Ela disse que o Oliver provavelmente viria de madrugada ou de manhã, mas eu achava que só nascia lá pelo meio dia (a doula acompanhou tipo uns 300 partos em menos de 5 anos, mas é claro que eu sabia mais, né?). Óbvio que quem acertou foi ela. Ela me mandou as instruções de ir pro chuveiro as 23h30min e ficar por lá por 45 minutos e seguir monitorando duração e distância entre contrações e eu fiz isso com um aplicativo.Enquanto o tempo passava eu conversava alegremente via mensagem, mentia pras amigas que nem sinal do Oliver nascer, telefonava pra mãe para conversar sobre amenidades, terminava de arrumar minha mala da maternidade. Até que perto das 23 horas fui fazer meu lanchinho pré parto e, quando veio uma contração, não consegui andar. “Acho que agora vai começar a ficar divertido”, pensei.
Fui pro chuveiro e o marido assumiu o controle do aplicativo das contrações. Enquanto isso ia ele ia conversando com a Ty por mensagem. Eu só chegaria perto de um celular outra vez quase 24 horas depois.
Depois do chuveiro me vesti e fiz uma trança. Parece fácil e corriqueiro, mas você não sabe a dificuldade que é fazer isso em meio aos pródromos. Fui pra sala ver série e o sofá já estava todo forradinho, o senso prático do marido é impressionante! Tentei ver TV, mas som e luz me irritavam ao extremo! Em algum momento me dei conta que estava tudo desligado e com meia luz. Perto das 2 horas da manhã, no meio de uma contração fortíssima estourou a bolsa. A gente sempre imagina isso acontecendo em público e alagando o lugar, mas na real, pra mim pareceu que eu tava fazendo xixi nas calças. Fui no banheiro trocar de roupa e nesse meio tempo chegou a Ty (mencionei que a gente também é vizinha, né? Duas quadras. Chegou rapidinho a pé, com sua bolsa de doula no meia da madrugada).
Quando a Ty chegou o marido foi cuidar de coisas práticas, forrar o banco de trás do carro, fazer chá mate gelado pra eu tomar durante o trabalho de parto na maternidade, ligar pra maternidade e reservar a suíte de parto, ligar pra minha mãe vir cuidar do filho mais velho e distrair o filho mais velho que tinha acordado. Sério, essas crianças têm um radar. Quando o Thomas acordou, eu realmente fiquei incomodada, porque era difícil me concentrar no trabalho de parto do Oliver, se o mais velho tava no quarto choramingando. Ty percebeu e decidiu-se que era hora de ir. Minha mãe chegou e fomos embora.
Comecei a andar no carro de joelhos e terminei sentada. O hospital onde a princípio nasceria o Oliver fica do ladinho de casa. O outro, do outro lado da cidade. Atravessamos, portanto, a cidade. Chegamos na maternidade. Segui caminhando levada pela linda ideia de entrar na banheira. Viva a água! E porque nem a Ty não ia me carregar (grávida eu sou três vezes o tamanho dela) e nem o marido também (ele tava na recepção preenchendo a papelada). Além disso, ela disse que eu já tinha ficado uma hora sentada em casa e que andar era importante – e se tem uma coisa que eu aprendi nessa minha vida foi obedecer a Ty. Finalmente chegamos na suíte e tudo arrumadinho, ar condicionado ligado e banheira funcionando! Num passe de mágica estava tudo escuro e silencioso.
Fomos pra bola, marido chegou do mundo da burocracia e um tempo depois chegou a minha GO. A pessoa é acordada no meio da madrugada, mas chega toda sorridente e de bom humor. (Claro que não me dignei a olhar pra cara dela quando entrou, eu tava na vibe parturiente-enxaqueca-na-caverna, mas percebi pelo tom de voz). Fomos fazer exame de toque. Pra fazer isso é preciso subir na cama, deitar de barriga pra cima na cama, dobrar as pernas na cama, na horizontal. Com contrações bem próximas umas das outras. É difícil e dolorido pra caramba. Pra mim, foi a pior parte. Quando eu finalmente estava na posição, a Dra perguntou se podia fazer o exame de toque e pediu COM LICENÇA. E já que estamos falando de Humanização do Nascimento, é bom salientar que Parto Humanizado não é necessariamente a meia luz, com incenso, velas e música. Parto Humanizado é necessariamente com um profissional que tem respeito pela paciente que está atendendo. E nessa parte de respeito entra perguntar se pode fazer exame de toque e pedir COM LICENÇA. Aprendam.
Depois do toque, fiquei um tempo em pé pendurada no marido. Depois fui pro chuveiro. Eu queria muito ir pra banheira, mas me mandaram pro chuveiro. Como tenho juízo, obedeci. Bola no chuveiro. Fiquei lá não sei por quanto tempo e saí porque tava difícil e cansativo levantar da bola a cada nova contração. Passado um tempo, novo toque. Agora, sim! Me deixaram ir pra banheira! Eba! Vou relaxar! Olhei pela janela pra ver se estava claro e estava. Não tinha ideia de horário, mais sabia que tinha amanhecido.
Quando a gente sente contrações, a gente precisa lidar com elas. Imagino que cada mulher tenha seu jeito. O meu era respirar. Mais profundo, menos, mais vezes, menos vezes. Dependia de cada contração. Mas o fato é que me apeguei à respiração. Pensava “respira, que dá”, essa era a minha estratégia. Logo que entrei na banheira, entrei no expulsivo. Nessa fase eu tinha contrações e vontade de fazer força. Na verdade, a força que a gente faz nem é a gente que faz. Essa força vem de dentro e ponto. Não tem a opção não fazer força, porque é ela que domina você. Então, vem a contração e, em seguida, a força. Na força não dá pra respirar. Você tá lá planejando respirar três vezes na contração e daí segurar o ar pra força e lá vem a força atropelando tudo.
Em determinada hora, vi que marido, doula e médica olhavam para um determinado ponto que não era exatamente meu rosto.
“O que vocês tão olhando?” “O cabelo do Oliver.” “Loiro ou moreno?” “Moreno.”
Eu não sabia quando o Oliver ia nasceria, mas quando vi que a GO tinha sentado do meu lado. de luva na mão! Pensei: “Tá perto!”. No segundo toque que ela havia feito eu estava com 8 cm de dilatação. Dos 8 cm de dilatação até eu ter meu filhote no colo foram 20 minutos. Oliver nasceu às 7h27min.
É engraçado que a gente tá ali o tempo todo para parir nosso bebê, mas quando ele vem pro colo é uma surpresa. É uma grande emoção também, mas uma surpresa. É uma coisa indescritível segurar aquele corpinho gelatinoso, todo cheio de cabelo e com aqueles olhões de jabuticaba olhando bem na sua cara. É indescritível, emocionante, sensacional, perfeito. E enquanto você olha embasbacada para aquela carinha, você se dá conta que a dor sumiu e que nada mais importa, porque você tá abraçando e cheirando seu milagrinho.
Uns minutos depois do nascimento veio o pediatra. O cordão umbilical do Oliver foi cortado pelo pai, depois de parar de pulsar. Todo atendimento foi feito ali, do nosso lado, na nossa presença. O banho ele só tomou depois de 24 horas. E logo depois de nascer, ele já veio pro peito. Que continua sendo o lugar favorito dele no mundo. E é isso, não poderia ter imaginado um parto, um (re)nascimento mais fantástico que esse. Muito obrigada a todos os envolvidos!
Agora, refletindo, eu faria algumas coisas diferentes. Levaria lanche pra Ty e Dra (deviam estar com muita fome no fim). Depois da bolsa estourar, colocaria uma fralda geriátrica direto ao invés de ficar lutando pra colocar o absorvente na calcinha entre uma contração e outra. Faria o Curso de Capacitação de Casais em Parto Normal do Besser um pouco mais cedo para tomar as decisões com mais calma. Outras coisas eu faria exatamente como fiz. Dar a data prevista pro parto errada pras pessoas para evitar ansiedade desnecessária. Fazer Pilates no Besser. Fazer natação. Fazer o Curso de Capacitação de Casais em Parto Normal. Acupuntura para induzir o parto. Manteria a Doula Tiffany Buchmann. Manteria a Obstetra Dra Danielly Werka. Manteria a Suíte para parto humanizado com banheira na Maternidade Santa Brígida. Meu marido e companheiro de vida Cláudio.
“...Nessa fase eu tinha contrações e vontade de fazer força. Na verdade, a força que a gente faz nem é a gente que faz. Essa força vem de dentro e ponto. Não tem a opção não fazer força, porque é ela que domina você. Então, vem a contração e, em seguida, a força. Na força não dá pra respirar. Você tá lá planejando respirar três vezes na contração e daí segurar o ar pra força e lá vem a força atropelando tudo..."
Mariana da Rosa


