Viviam Storck de Oliveira
Bebê: Vitor
Nem acredito que chegou minha vez de contar do meu parto. Por meses fui lendo e agora foi comigo. Ainda é meio surreal olhar pra trás e acreditar que consegui. Creio que cada uma tem uma maneira de sentir dor, sentir o emocional, se dedicar ao trabalho de parto. Pois bem, comigo foi assim.
Meia noite estava bem tranquila na cozinha sentadinha fazendo as lembrancinhas da maternidade, com 39 semanas e 4 dias. De repente sinto algo escorrendo e fui correndo para o banheiro toda animada achando que era o tampão. Mas tinha água demais. Levei uns 10 minutos pra me convencer que era a bolsa. Fiquei um pouco frustrada porque meu sonho era entrar em trabalho de parto. Estava fazendo tudo certinho como a Tiffany Buchmann orientou, meu emocional bem controlado, sem me colocar em situações de stress, tudo pra evitar rompimento de bolsa. Mas enfim, mandei mensagem pra Ty pra já deixá-la avisada e ela me mandou caminhar. Mas antes fui limpar a casa. Duas horas depois, casa limpa, eu toda animada, eu e meu marido fomos caminhar na garagem porque estava chovendo muito. Contrações suportáveis, mas elas não me davam descanso.
3h da manhã fui pro banho e as contrações intensificaram demais. Daí em diante meu trabalho de parto todo foi muito frequente com contrações a cada 2 minutos. Falei pro meu marido que estava na hora de chamar a Ty. Das 4h até às 10h fiquei em casa, na partolândia. Velas, música zen, bola, chuveiro, a Ty tentando me dar comida na boca. Meu marido super presente, terminando as lembrancinhas, preparando escalda pés. É muito interessante ver que você vai perdendo o domínio do seu corpo. Parece que ele vai te dominando. Eu que sou uma pessoa mais quietinha pra dor me vi vivendo a dor com expressões físicas, gemidos cada vez mais intensos e zero pudor! Essa era uma coisa que me preocupava, a Ty me ver pelada, sou bem envergonhada. Meu, na hora, pode ter um pelotão do teu lado e nada tem importância. É como a Ty ensina no curso, parir eh totalmente primitivo. Às 10h estávamos com aproximadamente 6 cm de dilatação pela fase do trabalho de parto em que me encontrava. O meu GO tinha orientado ir pra maternidade nesse horário. Uma novidade que nos desestruturou um pouco foi que ele entrava no plantão em outra maternidade às 14h. Seguir o GO ou manter a maternidade? Decidimos seguir ele.
Chegando lá, desastre na espera. Contrações cada vez mais intensas, a médica de plantão da triagem uma ogra me perguntando dados pessoais durante as contrações e fazendo toque de uma maneira extremamente grosseira e eu, no corredor da maternidade (porque levou 1h30min todo o processo de internamento) tendo que ouvir enfermeira passando por mim e falando, "ta com dor eh bem!?" E pessoas pedindo pra eu ir para um canto porque as pessoas estavam começando a achar que eu estava passando mal e tava incomodando elas.
Só via a cara de ódio da Ty e eu me concentrando pra manter meu emocional sob controle. Na triagem, 5 cm de dilatação.
Quarto liberado, mais 3h de trabalho de parto com muita frequência e intensidade até o meu GO chegar. Ele fez novamente toque e ainda estava com 5 cm, surtei. Comecei a chorar, a tremer. Não era possível que em 3h de contrações intensas não tinha dilatado nada. Depois fui saber que a posição que o bebê estava não acelerou o processo do amolecimento do colo e que cada corpo tem um tempo mesmo. Não tinha progresso de dilatação mas o colo do útero estava finalmente fino. Mas nessas alturas tudo que eu queria era um respiro. Conversamos sobre a possibilidade de analgesia e implorei por algo que me permitisse fechar os olhos por 10 minutos que fosse. Optamos pela analgesia. Chorei. Fiquei muito frustrada, embora nunca ansiei por um parto 100% natural. Mas na hora vem uma força que você acha que vai conseguir. A Ty me falou depois que ela concordava com a analgesia. Meu trabalho de parto foi longo e muito intenso, eu precisava descansar.
Daí parece que no caminho até o centro cirúrgico as contrações foram mais intensas e mais doloridas ainda. Um dos meus medos era uma analgesia mal aplicada que não me deixasse ativa no expulsivo. Mas fui extremamente abençoada.
O anestesista de plantão foi simplesmente perfeito! Me deu um combinado de anestesia com analgesia que me permitiu 30 minutos de sono enquanto o GO aplicou oxitocina para acelerar as contrações. O efeito passou em 1h50min e eu já estava quase com dilatação total. Ficamos eu, meu marido e o GO, que foi mais do que perfeito porque foi o meu "doulo" e me deixou super segura. Ele mesmo levou aquecedor pro centro obstétrico, bola, me mandava fazer 4 apoios, andar, cócoras. E no fim teve o feeling de me orientar a ficar em posição de litotomia, posição que achei que ia odiar e no fim foi assim que escolhi parir! Me ajudou, me orientou, me encorajou, amei, amei, amei! Perguntei pra ele sobre o plantão que ele tinha e ele fofo pediu pra um amigo cobrir ele para poder fazer meu parto.
O anestesista fofo que ficava horrorizado com meus gritos e queria tirar minha dor vinha perguntar pro GO pra aplicar mais anestesia e ele só respondia, "não precisa, devagar e sempre".
O Vitor nasceu às 18h, perfeito, lindo, gostoso. Sem epísio, laceração natural e leve, 3 pontos. 18h de trabalho de parto, mas Deus cuidou de cada detalhe, mesmo dos que fogem do nosso controle.
Meus heróis, Ty, com sua segurança e dedicação que nos dá força para continuar. Seu marido, que mesmo sem eu ter contato algum com ele, segura o perrengue em casa para ela, mesmo com dois pequenos ficar concentrada na gente. O GO, nosso médico "doulo" fofo. Anestesista que não lembro o nome, trouxe o alívio que eu precisava na hora respeitando meu desejo de analgesia leve. Michele, nossa fotógrafa querida linda que nos deu de presente a consagração desse momento tão especial que foi o parto. Sua discrição e profissionalismo me fez esquecer que ela estava lá! Meu marido, que foi parceiro do início ao fim, me dando amor e apoio e praticamente pariu comigo. E o mais importante, meu Deus, que é minha força, meu consolo, que esteve comigo o tempo todo e não me desampara jamais.
“Eu que sou uma pessoa mais quietinha pra dor me vi vivendo a dor com expressões físicas, gemidos cada vez mais intensos e zero pudor! Essa era uma coisa que me preocupava, a Ty me ver pelada, sou bem envergonhada. Meu, na hora, pode ter um pelotão do teu lado e nada tem importância. É como a Ty ensina no curso, parir eh totalmente primitivo"
Viviam Storck de Oliveira



