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Maisa Campos Fernandes de Moraes Schreider
Bebê: Martin

É engraçado como a vida nos oferece situações a todo o tempo que nos transformam, dependendo muito da atitude que tomamos frente a elas. Algumas são grandes marcos de mudanças, de crescimento.

Recentemente vivi, senti e me entreguei a um dos momentos mais marcantes da minha vida.

E a isso, gostaria de fazer o meu relato de parto.

Assim como tantos outros médicos, a minha vivência durante a formação médica com o parto normal foi um tanto quanto ruim. Pouco ouvi sobre parto humanizado, e quando alguém falava sobre isso, não dava muita atenção achando que era coisa mística, natureba e que nada tinha a ver com a técnica que eu estava disposta a aprender dentro do hospital.

No estágio da maternidade, aprendi toda a dinâmica de parto, doenças da gestação, medicações, protocolos e emergências, mas não me dei conta da complexidade da experiência do parto. Não me dei conta que os hormônios que eu tanto estudava são os hormônios do amor, são eles que transbordam esse momento de emoção fazendo nascer além do filho também uma mãe, um pai e um laço eterno. Na época senti a responsabilidade do médico durante o parto, mas não tinha me atentado para o PODER da mulher em parir uma vida com tanta naturalidade.

Foi mesmo gravida, que as duvidas com relação a escolher a forma de parto começaram a me ocorrer. Como médica, entendo a importância de uma cesárea e sei que ela salva vidas todos os dias. Como boa questionadora que sou, não me senti a vontade de aceitar a cesárea sem que tivesse uma indicação, uma vez que minha gravidez estava indo tão bem, porque não o parto normal?

Comecei junto com meu marido a estudar, ver documentários e me familiarizar com a beleza de um parto humanizado. Descobri que a experiência de parto podia ser muito mais natural, bonita e muito menos agressiva quando ela acontece sem interferências de tratamentos desnecessárias, e respeitando a vontade da mulher. Isso é um parto humanizado.

Demorei a achar um médico que me desse força e segurança para ressignificar o parto normal para mim e felizmente eu achei, e isso foi extremamente importante. Realmente não sei dizer com precisão, mas em um determinado momento a opção da cesárea não existia mais, e eu simplesmente sabia que eu ia ter um parto natural. E que a natureza se encarregaria de me conduzir.

E então depois de uma gravidez muito tranquila, no dia 18 de Janeiro de 2019 às 3 horas da manhã as contrações vieram com mais intensidade. Tínhamos saído para jantar bem tarde naquela noite para distrair a ansiedade de quem está com 39 semanas e 3 dias e tínhamos pegado no sono às 2 horas da manhã, mas logo a contração me despertou. Comecei a cronometrar e eu e meu esposo entendemos que aquilo era sim o início do nosso tão esperado trabalho de parto.

Como já sabíamos que essa fase do trabalho de parto leva algumas horas, ficamos acompanhando as contrações ritmarem e às 6 horas da manhã meu esposo ligou para nossa doula Tiffany Buchmann que começou a nos orientar por telefone. Pouco depois ela chegou em minha casa e me tranquilizou muito com sua presença, incentivo, massagens, música e as contrações seguiam. Eu sempre quis que esse período de dilatação que é bastante demorado, acontecesse em casa, com meu marido, no conforto do meu quarto, e assim foi.

Às 16 horas saímos de casa em direção a maternidade. Fomos recebidos pela nossa GO que já estava sabendo de cada passo, estava nos esperando e logo que me examinou tive a surpresa de já estar com 9 cm de dilatação!

Mesmo com toda dor, nesse momento consegui ficar bem animada e otimista achando que logo meu Martin já nasceria. Já na maternidade, passamos o período expulsivo juntos, eu e meu marido. Quanto mais juntos, mais ocitocina, e incrivelmente as contrações vinham mais fortes com ele ao meu lado.

Já tinha optado por usar anestesia apenas se tivesse indicação, e não foi preciso. A dor existe claro, mas a experiência é tão cheia de sentimentos, que ela não é protagonista. Lembro da dor, mas lembro também da emoção, do amor pelo meu marido e pelo meu filho que ia chegar à flor da pele, do orgulho de mim mesma, do medo de não conseguir, da força que eu tinha, da exaustão. Nossa doula e nossa médica foram verdadeiros anjos e nos guiaram e me encorajaram a cada contração ou fraqueza. Passei o expulsivo no chuveiro e na banheira quase todo o tempo. Foram longas 5 horas dessa fase final em que fazemos força para o bebê nascer.

E as 21h14min do dia 18 de Janeiro, no ímpeto de uma última força animal, nasceu nosso Martin, cheio de saúde. Foi direto para meus braços e para os braços do papai, no abraço que eu sempre sonhei, com toda a intensidade de amor do mundo.

Fiquei olhando enquanto o cordão parava de pulsar e Patrick cortava o cordão umbilical com o Martin nos meus braços. No colo do pai foi fazer a avaliação junto com o pediatra ali mesmo no quarto do nosso ladinho.

Tudo mais calmo, completo, e a história toda poderia acabar por aqui.

Mas depois do parto minha placenta não foi expulsa por completo. Alguns resquícios de placenta somados a uma atonia uterina me causaram uma hemorragia intensa logo após esses momentos do parto e infelizmente não pude ter minha primeira hora coladinha com meu bebê.

Os casos de atonia uterina acontecem porque o útero não se contraiu adequadamente logo após a saída do bebê e placenta, e isso faz com que ele seja um órgão com uma ferida aberta. A hemorragia é muito intensa e se não tratada prontamente se torna um risco.

Por isso lembro da importância da supervisão médica em qualquer situação de parto, mesmo quando a gravidez não tem intercorrências, como foi a minha. Mesmo quando um parto é completamente natural como foi o meu. Tem coisas que não estão sob nosso controle, e agradeço muito a minha GO que foi tão rápida em identificar e manejar essa emergência de parto, e que por fim ajudou a me sentir uma mulher forte e realizada por conseguir ter o meu filho do jeito que eu sonhei, e muito mais.

"...Às 16 horas saímos de casa em direção a maternidade. Fomos recebidos pela nossa GO que já estava sabendo de cada passo, estava nos esperando e logo que me examinou tive a surpresa de já estar com 9 cm de dilatação..."

Maisa Campos Fernandes de Moraes Schreider

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