top of page

Anna Eliza Finger
Bebê: Lara

Minha pequenininha, estou há vários dias pensando sobre o que te escrever para contar do seu nascimento. Você sabe que a sua foi minha segunda gestação, a Olivia já estava com 2 anos, então muita coisa foi diferente.

Primeiro a própria gestação, o enjoo inicial que não tive na primeira, a pouca dedicação exclusiva que consegui dar a esse momento (ter outra filha demandava atenção), sem conseguir tempo pra fazer atividade física, o cansaço e a dificuldade pra descansar tendo que correr atrás da Olivia, além da decisão de mudar de cidade, sair de Brasília e voltar pra Curitiba, mudando de trabalho e com uma nova casa para organizar. Além disso, na segunda gestação já não senti o deslumbramento da primeira, quando tudo era uma empolgante novidade. Mas apesar disso, também me senti muito feliz, me achava linda grávida, e esperava ansiosamente pra te conhecer. Por isso queria que o seu nascimento fosse um momento especial, e foi.

Sua gestação começou em Brasília, mas aí pelo quinto mês nos mudamos pra Curitiba. Lá estávamos sendo acompanhadas por um GO, que já tinha sido nosso obstetra na gravidez da Olivia, e chegando aqui passamos a ser acompanhadas por outra GO. Foi uma sorte, na verdade, pois não foi fácil achar um obstetra ainda com disponibilidade para partos previstos pra março, e eu já estava até cogitando ir pra rede pública.

Toda a gestação correu super bem, mas como eu tinha tido um problema na placenta na primeira, e por causa disso a Olivia tinha nascido abaixo do peso e teve várias complicações, estava bem preocupada com o seu ganho de peso. Além disso nas últimas semanas eu estava me sentindo tão cansada que achava que não chegaria em 40 semanas, mas chegamos. E passamos.

Com 38 semanas comecei a fazer sessões de Pilates com a nossa doula, Tiffany Buchmann. Também fazia exercícios em casa com a bola, mas você continuava alta e até desencaixou na semana 39, pra minha preocupação (na ecografia que fizemos nessa semana você estava transversa, mas virou no meio do exame). Com 40 semanas fiz uma sessão de acupuntura que não só não adiantou nada, como depois disso você subiu ainda mais (como boa ariana, acho que fez isso só pra mostrar quem manda, mas tudo bem, eu te entendo, pois como também sou, sei que nós não gostamos de ser pressionadas, e você nasceria quando estivesse pronta).

Depois de 40 semanas os dias foram passando e nada. Até chegarmos em 40 semanas e 5 dias, uma segunda-feira. Nesse dia fiz bastante exercício na bola de Pilates durante a tarde, cheguei a sentir algumas contrações e já tinha me animado, mas logo pararam. Depois disso, nessa mesma tarde perdi o tampão, então sabia que estava perto, mas não imaginava o quanto!

Quando deu 18 horas fomos a pé buscar a Olivia na escola (nada de contração nesse momento). Chegando em casa me deu uma super vontade de tomar banho, e nesse momento comecei a sentir as primeiras contrações. Liguei pra sua avó, que ia vir aqui pra casa ficar com a Olivia, e coloquei ela de sobreaviso. Avisei também a doula e a obstetra, mas como da primeira vez eu tinha passado o dia todo com contrações que aumentaram bem lentamente, estava achando que passaria a madrugada toda assim.

Já tinha combinado com a Ty de irmos pro Instituto Besser (um espaço com vários serviços voltados para gestantes) ficar lá durante o trabalho de parto, mas antes disso fui bem tranquila fazer janta e dar comida pra Olivia. Só que pra nossa surpresa, logo as contrações já estavam com menos de 10 minutos de intervalo! Liguei de novo pra vovó, que veio correndo, ainda consegui por a Olivia pra dormir, e às 22 horas fomos direto pra maternidade, com contrações agora a cada 3 minutos.

Você nasceu na maternidade, a mesma onde, 39 anos antes, eu também havia nascido. Quando chegamos, a Ty já estava lá nos esperando, e na triagem vimos que eu estava com 6 cm de dilatação. Nesse momento a dor ainda estava bem suportável, então ficamos andando pelo corredor da maternidade enquanto o papai resolvia a internação, e depois fomos pro quarto. Lá fiquei bastante tempo no chuveiro fervendo, quicando na bola de Pilates, até que quis sair. Nisso a GO já tinha chegado e ficou conosco no quarto, mas a Ty teve que sair pra socorrer outra gestante que estava em apuros, e no lugar dela ficou a doula Backup dela a Ana Paula, psicóloga que eu já tinha conhecido de uma das vivências no Besser.

Até esse momento eu estava me sentindo ótima, as dores das contrações, apesar de fortes, estavam suportáveis, e ficamos mais um tempo ainda no quarto, até que comecei a sentir vontade de fazer força. A GO me examinou e viu que ainda estava com 7 pra 8 cm de dilatação, então ainda faltava um tempo. Mas junto com a vontade de fazer força a dor mudou, e de repente tudo ficou terrível. Era a mesma dor já conhecida do primeiro parto, onde parecia que eu estava sendo esquartejada, ou que mil agulhas espetavam meu tronco. Se você ler o relato do parto da Olivia, vai ver que apesar da emoção e da intensidade daquele momento, ele foi marcado por uma dor muito intensa, e eu fiquei meio traumatizada, confesso. Por causa disso, o nascimento dela, que era para ser um momento de alegria, foi de angústia. E ali, sentindo aquela dor de novo, sem conseguir ficar sentada porque a pressão piorava muito, mas também sem conseguir ficar de pé ou deitar (me lembrei porque tinha sido tão importante aquele tecido pendurado no teto da sala do primeiro parto), vi que não queria que seu nascimento também fosse marcado por essa sensação.

Eu sei que a dor faz parte do parto, mas pra mim quando se fala em “parto humanizado” acho que a mãe precisa se sentir bem, e eu não me senti. Então depois de me informar bastante sobre os prós e contras, e conversar com pessoas que tinham tomado analgesia, tinha decidido que se eu sentisse a mesma dor de novo, eu tomaria. E senti. Quando pedi a analgesia, tanto a obstetra quanto a doula ainda tentaram me dissuadir, e eu até cheguei a tentar resistir um pouco mais, voltei pro chuveiro pra ver se ajudava, mas não adiantou, a dor só aumentava, então finalmente descemos para o centro obstétrico.

Fui de cadeira de rodas e nem vi o trajeto. Me lembro vagamente de terem pedido para o seu pai esperar fora, e acho que a doula também, porque enquanto o anestesista não chegava a própria GO ficou me abraçando pra me acalmar. A bolsa também rompeu nesse momento. Depois de não sei quanto tempo (pareceu uma eternidade) o anestesista finalmente chegou. Foi difícil até passar pra maca, eu urrava de dor, e o imbecil ainda me pediu pra parar de gritar porque não ia ajudar em nada (oi!? estava gritando porque estava com muita dor, senão não precisaria dele). Foi o momento tosco do parto. Mas enfim, passado esse episódio, quando a analgesia fez efeito, tudo ficou ótimo de novo.

Aí que eu vi que estava em uma sala do centro cirúrgico, nem um pouco humanizada, o que foi uma pena, porque se tivesse algum equipamento de apoio ao parto normal teria sido muito melhor. Nesse momento eu já estava com dilatação completa, então a analgesia podia ter atrapalhado, e de fato me fez perder a sensibilidade. No começo nem conseguia mexer a perna esquerda, mas logo a sensibilidade foi voltando e sentia as contratações, então conseguia fazer força, mas um pouco descoordenada, o que fez com que o período expulsivo demorasse mais. Mas sinceramente, trocava fácil um expulsivo de 10 minutos com muita dor, por um de duas horas sem dor.

Foi um parto bastante animado, comparando com o primeiro. No da Olivia só ficávamos eu, o papai e a doula, eventualmente o obstetra vinha ver o batimento e a dilatação, o pediatra só entrou na hora do nascimento, e os únicos sons que eu ouvia eram meus gritos. Dessa vez, além de mim, papai e a doula (a Ty voltou quando estávamos no centro obstétrico), a GO também ficou o tempo todo, assim como o pediatra e uma enfermeira, e eventualmente o anestesista vinha dar uma checada também. E sem dor, eu conseguia conversar e ficar olhando pelo espelho pra ver coroar. Também mudei de posição várias vezes (deitada, de lado, sentada na escadinha da maca), e achava que iria parir sentada, mas pra minha surpresa a melhor posição foi deitada.

As contrações não pararam em nenhum momento, mas só quando a analgesia foi perdendo o efeito é que consegui coordenar melhor a força e você finalmente coroou. Senti o círculo de fogo e vi pelo espelho a sua cabecinha aparecer, algo que nunca na vida vou esquecer! Mais uma contração e finalmente você nasceu! Às 2h30min da manhã do dia 28 de março.

Seu pai foi o primeiro a te pegar (com um pouco de ajuda da obstetra), trouxe você pra mim, e ficamos alguns minutos abraçadas, olhando pro seu rostinho. Que emoção esse momento! Mas como você nasceu meio roxinha, o pediatra pediu pra te examinar, e daí o papai cortou nosso cordão e nos desligou fisicamente. O papai te levou, enquanto a GO me examinava também. E como no primeiro parto, também não tive nenhuma laceração. Quando você voltou estava com uma corzinha melhor e depois o papai me contou que o pediatra fez uma estimulação, porque achou que você estava muito molinha. Também te pesou, 2,715 kg, e carimbou seu pezinho no braço do papai.  Depois que a placenta saiu e a GO examinou pra ver que não faltava nem um pedacinho (eu não quis guardar), ainda tive que esperar a liberação pelo anestesista, e apesar de eu estar me sentindo ótima, ainda ficamos em uma sala de recuperação mais um pouco, antes de poder subir pro quarto. Mas foi bom até, nesse momento finalmente ficamos só nós duas, e pude finalmente te olhar com calma e conversar um pouquinho com você. Com a ajuda de uma enfermeira também pus você pra mamar, e vi que você era bem fortinha (nos dias seguintes eu sofreria com essa forcinha, hahaha). Depois finalmente fomos pro quarto, onde o papai já estava nos esperando. Claro que não consegui dormir, a adrenalina ainda era muito forte, então fiquei ali com você no meu colo, sentindo o seu cheirinho, enchendo você de beijos, e você muito atenta a tudo, de olhos arregalados para o mundo.

Apesar de nós duas estarmos ótimas, ainda ficamos 2 dias na maternidade por causa de alguns exames que você só poderia fazer depois de 48 horas do parto. No dia seguinte o papai buscou a Olivia e a vovó pra virem te conhecer, mas não puderam ficar muito com a gente porque a Olivia estava com muita tosse e teve que ser levada para outro hospital onde descobriram que ela estava com pneumonia, e por causa disso, apesar de a vovó estar lá em casa, o papai teve que se dividir pra ajudar a cuidar dela e não pode ficar o tempo todo conosco na maternidade. Também tivemos algumas dificuldades com a amamentação, meu peito partiu e chegou a sangrar, mas contamos com a ajuda de uma consultora de amamentação do Besser, a Juliana Cassolato, que foi fundamental e em poucos dias já estávamos tranquilas, só mamando e dormindo, (você principalmente)!

Pensando nos dois partos, tivemos algumas coincidências, ambas passaram de 40 semanas (a Olivia mais 5 dias e você mais 6 dias), e até parece que vocês combinaram de nascer na madrugada de segunda pra terça e ambas às 2h30min da manhã. Mas apesar disso, os dois partos foram bem diferentes. Primeiro percebi que realmente o ato de nascer ainda está preso aos protocolos, principalmente hospitalares, o que fez com que parir em Brasília e em Curitiba fosse bem diferente. Além disso, cada parto me trouxe experiências únicas e que se complementam. No da Olivia me tornei mãe, e isso foi muito forte, pois a chegada dela virou nossa vida do avesso. Mas tanto a dor do parto, quanto as dificuldades iniciais pelas quais ela passou ficaram marcadas na minha memória como uma experiência tensa. E o seu foi a reconciliação com esse momento, um parto legal, que eu consegui curtir e um pós-parto tranquilo, pra mostrar que a maternidade também pode ser leve.

E assim foi o seu nascimento, tranquilo e cheio de emoção! Você chegou pra completar nossa família, e nos mostrar que o amor não se divide, só se multiplica!

Mas foi bom até, nesse momento finalmente ficamos só nós duas, e pude finalmente te olhar com calma e conversar um pouquinho com você. Com a ajuda de uma enfermeira também pus você pra mamar, e vi que você era bem fortinha (nos dias seguintes eu sofreria com essa forcinha, hahaha) ".
Anna Eliza Finger
Curso de Parto Normal Online
  • YouTube Manual do Parto
  • Instagram Manual do Parto
  • TikTok Manual do Parto
  • Facebook Manual do Parto
  • Telegram Manual do Parto
Curso de Parto Normal Online
bottom of page